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Dois mil e vinte, a exemplo de outros, começou com a famosa lista de intenções para o ano novo. Certamente, muitos deles, interrompidos pela pandemia. Nada de dietas, academias, ganhar na loteria e viagens. A prioridade foi, realmente, nos manter vivas. Infelizmente, finalizamos essa etapa com a dor de contabilizar aproximadamente 200 mil mortes pela COVID 19. Assistimos, tensos, a agonia dos profissionais de saúde implorando para que não façamos aglomerações, evitando, dessa forma, o contágio. Não há como negar: realmente um período árduo.
A ausência de abraços e a necessidade de nos adaptarmos rapidamente aos meios digitais, como modo de sobrevivência, tornou-se imprescindível. Manter a saúde mental nesse processo foi tarefa quase impossível.
Talvez o que mais tenha marcado, negativamente, foi perceber que as mulheres, pelo simples fato de estarem mais próximas dos seus 'companheiros', foram mais agredidas. Em pleno Natal de 2020, notícias de feminicídios abomináveis, acabaram com qualquer tentativa de noite feliz. A jovem juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi que, ao cansar de um relacionamento abusivo, foi morta a facadas, na frente das filhas, é o retrato do machismo em sua forma mais pura.
Há esperança? Talvez, pois o fato de ser uma mulher branca, jovem, bem empregada cujo crime teve grande visibilidade, sirva para a criação de propostas mais concretas para prevenirmos outras violências.
Igualmente repugnante, foi assistir o assédio vivenciado pela deputada Isa Penna. Francamente, deputado Fernando Cury (e seguidores), é lamentável. Um país que ocupa um dos primeiros lugares de casos de violência contra as mulheres, ver quem deveria dar bons exemplos, com esse comportamento, é nauseante. O mínimo que esse senhor merecia, se o Brasil fosse um país decente, era perder o mandato. A cada vez que a cena repetia, em diferentes canais de TV e redes da internet, minúsculos choques percorriam os nossos corpos femininos. Pequenas descargas se acendiam em nossas memórias, revivendo situações nas quais tivemos que fingir não perceber piadinhas sem graça, cantadas ridículas e toques desnecessários. Apesar de as imagens ficarem gravadas no plenário da Câmara dos Deputados e não deixar a menor dúvida, o que ouvimos após, foram desculpas esfarrapadas. A resposta do tal deputado "esclarecendo" que em "nenhum momento houve o sentido de desrespeitar a colega" durante esse gesto é menosprezar nossa sanidade mental. Esse machismo cínico, que acompanha diariamente o itinerário das mulheres, ser retratado por meio de um deputado estadual, mesmo sabendo que estaria sendo gravado, é a certeza da impunidade de tais atos. Alguma medida deve ser tomada para que não se repita nos transportes públicos, espaços de lazer, trabalho e tantos outros percursos das mulheres desse país.
Nós gritamos, e faz tempo: che-ga! Não aguentamos mais ensinar nossas filhas/meninas/mulheres a cuidarem o que vestem, como devem sentar, o que podem falar e ainda ouvir que esses absurdos acontecem motivados por alguma de nossas atitudes. Precisamos de paz para seguir em frente. Queremos participar de reuniões, congressos, eventos, circular livremente pelas ruas em qualquer horário, sem o medo de estarmos sempre em perigo. Poder estar em sossego, inclusive, dentro de nossas casas.
Que 2021 venha cheio de gentilezas, educação, cultura, ciência, empatia, solidariedade e, óbvio: vacina!